As caçadas de kaa

São suas manchas a alegria do leopardo
São os seus cornos o orgulho do touro,
Sê limpo! O caçador é tanto mais galhardo
Quanto mais limpas tem suas vestes de couro.

Se com o corno agressivo, o Sambhur despontar,
Tu não te apressarás em vir nos informar,
que nos conhecemos há dez estações.

Tu não oprimirás os filhotes estranhos,
Mas chama-os sempre de Irmã e Irmão,
Se bem que sejam êles pequenos e sonsos,
Filhos de ursa, quem sabe se eles são?

Ninguém igual a mim! Exclama com certeza
O filhote no orgulho da primeira presa –
É pequeno o filhote e a Jangal é imensa.
Abata-se-te o orgulho! Cala e pensa!

 

Rudyard Kipling

 

Arriscar-se

Rir é arriscar-se a parecer doido,
Chorar é arriscar-se a parecer sentimental,
Estender a mão é arriscar-se a comprometer-se,
Mostrar os seus sentimentos é arriscar-se a se expor,
Dar a conhecer as suas idéias, os seus sonhos, é arriscar-se a ser rejeitado,
Amar é arriscar-se a não ser retribuído no amor,
Viver é arriscar-se a morrer,
Esperar é arriscar-se a desesperar,
Tentar é arriscar-se a falhar,
Mas devemos nos arriscar !
O maior perigo na vida está em não arriscar.
Aquele que não arrisca nada

– Não faz nada !

– Não tem nada !

– Não é nada !

 

Rudyard Kipling

Um Poema para Domingo

Se

 

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;


Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar -sem que a isso só te atires,
De sonhar -sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,

E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao mínimo fatal todo o valor e brilho,
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais -tu serás um homem, ó meu filho!

 

Rudyard Kipling

O homem que queria ser rei

 “The Man Who Would Be King” (1975 – 123m)

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 Já não se fazem filmes assim! Baseado numa história de Rudyard Kipling e recheado de humor, espectáculo, excitação e inesperadas reviravoltas, a versão filmada de John Huston de O Homem Que Queria Ser Rei merece ser coroada como uma das maiores aventuras da tela.

Sean Connery e Michael Caine – queixo para fora, ombros em esquadria e com um ocasional piscar de olhos manhoso – interpretam os divertidos sargentos britânicos Danny Dravot e Peachy Carnehan que querem construir um império só para eles…

O realizador John Huston tinhao_homem_que_queria_ser_rei.jpg pensado primeiro em Clark Gable e Humphrey Bogart para protagonistas. Mais tarde, Paul Newman e Robert Redford foram propostos para os papéis. Newman, contudo, sugeriu Connery e Caine. Hoje é difícil imaginar outros actores nesta obra-prima a que Caine chamou ‘o único filme que fiz que perdurará depois de eu ter partido.’

 Há certas obras de ficção, muito boas, que têm a faculdade de sobressair de seu contexto original. Quero dizer que, embora inseridas em uma época e local definidos, seguindo uma trama bem específica, com personagens rigidamente delineados, elas conseguem ser tão emblemáticas que acabam por se aplicar a uma situação que surge aleatoriamente no futuro, em um contexto inteiramente distinto. Refiro-me a O Homem Que Queria Ser Rei, de Rudyard Kipling. Não li o original, mas vi o filme, excelente, de John Huston, que contou a história de maneira divertida e irônica, favorecido ainda pela ótima atuação de Sean Connery e Michael Caine. Deve ter sido gratificante também para Connery, que naquele ano de 1975 apenas começava a despir a pele de James Bond.

 Quem também viu há de se lembrar: dois aventureiros se embrenham pelos confins do Império Britânico, em um reino perdido aos pés do Himalaia, que segundo dizem, não tinha contato com o resto do mundo desde a época de Alexandre O Grande, o último estrangeiro que andou por ali. Subitamente, um incidente fortuito faz com que um dos aventureiros seja tomado por um deus mitológico dos locais, cuja volta era profetizada – na verdade, tomam-no pelo próprio Alexandre o Grande redivivo. O intruso é conduzido a um trono e todos se prostram a seus pés. Agora ele é o rei daquele povo. O problema é que ele gosta do papel. Mete-se efetivamente na pele do personagem, e exige ser tratado como tal. Dá ordens, edita leis, e começa a montar um harém de esposas. As coisas correm às mil maravilhas para o vivaldino, até que um segundo incidente, tão fortuito quanto o primeiro, faz com que os nativos descubram o engano: aquele indivíduo não é deus coisa nenhuma. A propósito, nãi sei porque  esse filme me lembrou  o governo Lula. Não deve ser por causa dos atores, pois nenhum deles é canastrão. Deve ser outro motivo qualquer.

 

 

 

Arriscar-se

Rir é arriscar-se a parecer doido,

Chorar é arriscar-se a parecer sentimental,

Estender a mão é arriscar-se a comprometer-se,

Mostrar os seus sentimentos é arriscar-se a se expor,

Dar a conhecer as suas idéias, os seus sonhos,

é arriscar-se a ser rejeitado,

Amar é arriscar-se a não ser retribuído no amor,

Viver é arriscar-se a morrer,

Esperar é arriscar-se a desesperar,

Tentar é arriscar-se a falhar,

Mas devemos nos arriscar !

O maior perigo na vida está em não arriscar.

Aquele que não arrisca nada

– Não faz nada !

– Não tem nada !

– Não é nada !


 

Rudyard Kipling