Eu e você – XVIII – Meditação

A gente começa a amar
por simples curiosidade,
por ter lido num olhar
certa possibilidade.

E como, no fundo, a gente
se quer muito bem,
ama quem a ama, somente
pelo gosto igual que tem.

Depois, a gente começa
a repartir dor por dor.
E se habitua depressa
a trocar frases de amor.

E, sem pensar, vai falando
de novo as que já falou…
E então, continua amando
só porque já começou.

Paul Géraldy

Meu Sonho

Eu Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?

Do corcel te debruças no dorso…
E galopas do vale através…
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?…

Tu escutas…
Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? – que mistério,
Quem te força da morte no império

Pela noite assombrada a vagar?
O Fantasma
Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!…

Alvares de Azevedo