Os cometas

Os cometas dão a volta e batem as caudas.
Têm luz própria, estes peixes orbitais
e crisântemos. Nos viveiros das bolhas, ébrios de oxigénio.
As águas atravessam as trevas.
Atravessam-nas os animais de coração translúcido entre os ombros.
Quando um abraço engrandece tudo, cabem na barragem
espádua a espádua.
As palavras com bolhas dos pulmões à boca.
E no bravio espaço de nome a nome-desabrochadamente:
guelras, e os cometas florais derramados.
Quando a loucura abala as residências vivas
entre a água e a instantânea
atmosfera
dos besouros, altos, todos, furiosos
como jóias. Quando a loucura me abala
com ar e água.

Herberto Helder

Solidão

Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!
Aberto em mil feridas, cada instante,

qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,

num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.
És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente…
Que plenitude de solidão, mar solitário!

Juan Ramón Jiménez